Uma pedra no caminho
“As pedras chegaram aqui antes de nós”. Com essa frase, em tom de brincadeira, Ara Vartanian, que se converteu em um dos designers de joias mais criativos do Brasil, costuma narrar seu caso de amor com diamantes negros, tanzanitas, rubis, esmeraldas e afins. Há dez anos, ele começou um verdadeiro garimpo, em que encontrar a pedra preciosa perfeita é o principal desafio. “Todo o meu processo criativo parte do desenho das pedras. Nem sei começar uma peça sem tê-las primeiro na mão”. Formado em administração de empresas em Boston e com o high school cursado na Suíça, Ara tinha tudo para fazer fortuna no mercado financeiro. Trabalhou três anos na bolsa de valores Nasdaq, em Nova York, até que trocou o caminho de nerd bem-sucedido por sua verdadeira vocação, que, aliás, faz parte do DNA de sua família (seu irmão mais velho é o designer Jack Vartanian).“Em 2000, voltei ao Brasil e fui trabalhar com o meu pai, que compra e comercializa pedras preciosas”, conta. “Comecei a criar minhas primeiras peças em 2002, mas só podia exportá-las porque era fornecedor de grandes joalherias e não pegava bem competir com os próprios clientes”, conta. Em 2005, finalmente, ele deixou o escritório do pai e abriu o primeiro ateliê, em São Paulo. Hoje, tem pontos de venda em Brasília e no Rio de Janeiro e acaba de abrir uma loja no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Ou seja, sua caça à esmeralda perdida – que pode ser uma colombiana, de 60 quilates – não tem mais fim.
Autodidata, Ara viaja cinco vezes ao ano em busca de seu material de trabalho. Gosta de destinos exóticos, como a Índia, onde pode comprar gemas na lapidação rose cut, uma das mais famosas do país – e preferidas dele. Sim, porque o óbvio não faz parte de suas criações. Além das citadas esmeraldas e rubis, ele tem uma queda especial por raridades, como a turmalina paraíba, mais difícil de encontrar do que as motos antigas, que ele também coleciona.
“A estética e a tradição sempre foram importantes na minha vida. Garimpo móveis, tapetes, luminárias, motos, pedras preciosas. Vou comprando...”, afirma ele, que é fã do mobiliário dos anos 1960 e já criou uma coleção de arandelas em formato de diamante em parceria com a loja Saccaro
Na rota do novo
Os diamantes, aliás, são destaque em seu trabalho. Apesar do apego ao retrô, Ara desenvolveu uma técnica surpreendente na joalheria: o uso do diamante invertido, incrustado de ponta-cabeça.“Percebi que as pontas eram lindas e davam um efeito de tridimensionalidade de que gosto muito.” Efeito que tem um quê rock’n’roll e é reforçado pelas estruturas de suas peças, quase todas vazadas
Como desenha em cima das gemas, as diferentes texturas são sempre levadas em consideração e a pedra é mesmo a estrela principal. Uma pulseira pode ter diamantes negros invertidos, diamantes com lapidação navette e cabochões de esmeraldas. Ou um brinco pode levar diamantes brancos ice, azuis e brown. O resultado é chic e exclusivo, já que nenhuma pedra é exatamente igual à outra.
Sem levarmos em conta o tempo que o designer gasta em busca de cada gema e da “depuração” (ele, às vezes, deixa as pedras descansarem algum tempo antes de ter uma ideia), brincos, colares e anéis levam, em média, um mês para ficarem prontos. Ara faz o desenho técnico, manda fotografá-lo na produção e o encaminha para os ourives, que trabalham em uma espécie de bunker.
Quando as portas blindadas se abrem, vemos pequenas barras de ouro sendo derretidas por enormes maçaricos e moldadas como num passe de mágica. Depois que o metal ganha a forma que servirá de estrutura para as pedras, ele segue para os processos de polimento, cravação e banho de ródio. Para só então descansar, feliz e reluzente, na caixinha de jóias de uma feliz proprietária.
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